Coisas que aprendi no consultório (e na vida) — nº 3

E se a recaída puder te mostrar onde cuidar melhor?

(Notas sobre prevenção que começam com escuta, não com pressa.)

Depois da recaída, é comum ouvir a pergunta:
— Como faço para isso não acontecer de novo?

Mas talvez a pergunta mais importante venha antes:
— Você já teve tempo de entender o que aconteceu com você?

Na tentativa de reagir rápido, muita gente — profissionais inclusive — foca em corrigir comportamento, ajustar dose, reorganizar rotina. Mas quando a recaída é apenas contida, sem ser compreendida, ela perde seu poder mais silencioso: o de revelar com honestidade onde a dor não foi escutada.

Toda recaída tem uma história.
E quase sempre, essa história começa dias ou semanas antes da queda.

Pequenas renúncias.
Sentimentos evitados.
Avisos do corpo ignorados.
Exigências que se acumularam até virarem exaustão.

Prevenir uma nova recaída não é construir um muro mais alto — é abrir espaço para olhar, com verdade e sem julgamento, o que exatamente transbordou ali.

A escuta atenta pode revelar:
– gatilhos emocionais específicos,
– momentos em que a solidão se tornou insuportável,
– antigos modos de sobrevivência voltando sem pedir licença,
– e necessidades legítimas que ainda não encontram lugar para existir.

Quando esse mapeamento é feito com calma — e não com culpa — a recaída deixa de ser um ponto final.
Ela vira um ponto de partida mais claro.

Não se trata de glorificar a queda.
Mas de não desperdiçar o que ela tem a ensinar.

Recaídas não se previnem apenas com disciplina.
Elas se previnem com vínculo, escuta, humildade e tempo.

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