Entre o vínculo e a captura: quando pertencer custa caro demais

Há formas de estar com o outro que nos ampliam — e formas que nos diminuem.

Há vínculos que nos convidam a existir, e outros que nos pedem, com gentileza ou violência, para sumir.

Mas nem sempre é fácil perceber a diferença, sobretudo quando o que nos prendeu se apresentou como cuidado.

Você já sentiu que precisava “ser menos” para caber na vida de alguém?

Já se pegou repensando mil vezes uma fala, com medo de parecer exagerado?

Ou sentiu que sua presença só era bem-vinda se viesse junto de uma performance?

Muita gente cresceu nesse tipo de ambiente: onde a obediência valia mais do que a verdade, onde o amor era condicionado à adaptação. Onde, cedo demais, foi preciso aprender a evitar conflito para merecer afeto.

 

Buscar a orientação de um psiquiatra pode ser o primeiro passo para compreender seus sentimentos e reconstruir relações de forma mais saudável.

 

São vínculos que capturam. E o mais doloroso é que às vezes eles se disfarçam de amor.

Na clínica, essas histórias aparecem em forma de ansiedade crônica , culpa difusa, medo de desagradar. Alguém que sempre pergunta se está “falando demais”.

Que pede desculpas por chorar. Que prefere se calar do que correr o risco de ser mal compreendido.

E talvez você se reconheça nisso também.

Às vezes o corpo revela antes da mente: contrai-se diante de elogios, recua de conversas difíceis, endurece quando sente liberdade demais. Como se a alegria fosse perigosa, e o descanso, uma ameaça.

Mas existem outras formas de pertencer. E elas não exigem desaparecimento.

Um vínculo seguro é aquele em que não é preciso negociar a própria essência. Onde a escuta não é usada como controle. Onde você pode discordar sem medo de perder o afeto. Onde há espaço para respirar, mesmo em silêncio.

Você já viveu algo assim?
Consegue imaginar o que mudaria se esse tipo de vínculo existisse em sua vida?

Na relação terapêutica, é justamente esse espaço que tentamos construir. Não como ideal, mas como possibilidade real de reparação. Um vínculo que não cobra, não exige performance, não se alimenta de submissão.

Mas que também não é neutro: é um lugar ético, de presença viva, onde alguém pode enfim se reconhecer inteiro.

E talvez o começo de tudo seja essa pergunta simples, mas exigente:
“Nesse vínculo, estou sendo acolhido ou contido?”
“Estou pertencendo por amor ou por medo?”

Porque vínculo que cura não nos prende — nos liberta.
E quando há liberdade, há dignidade.

dr fabio fonseca psiquiatra campinas perfil profissional

Sobre o autor:

Dr. Fábio Fonseca

Dr. Fábio Martins Fonseca é psiquiatra e psicoterapeuta com mais de 20 anos de experiência. Possui formação pela Unicamp e aperfeiçoamento internacional em Terapia Cognitivo‑Comportamental no Beck Institute (Filadélfia). É membro certificado da Academy of Cognitive Therapy, com especialização em DBT pelo Linehan Institute (Seattle) e formação em Entrevista Motivacional (UNIFESP). Atua com cuidado humanizado e baseado em evidências.

Vamos caminhar juntos em direção a uma saúde mental mais equilibrada e satisfatória.

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