Psiquiatria com intenção: tempo, presença e perguntas que abrem caminho
Um modo de cuidar com intenção
Num tempo em que se espera que a psiquiatria seja rápida, objetiva e resolutiva, eu escolho sustentar outra prática. Não por rebeldia, mas por compromisso.
Compromisso com o cuidado como encontro.
Compromisso com o sofrimento que não se mede em minutos.
Compromisso com o silêncio que ainda não sabe se pode falar.
Quem chega ao consultório não busca apenas um remédio.
Busca ser compreendido em sua dor, em sua história, no que não consegue nomear.
Presença no atendimento
Por isso, cada atendimento que realizo começa com presença.
Não uma escuta automática, mas uma escuta que se importa.
Uma escuta que acompanha o que a pessoa diz e o que ela ainda não consegue dizer.
Que não apressa, que não julga, que não “lê nas entrelinhas” sem antes perguntar o que aquilo realmente significa para quem sente.
O papel das perguntas na psiquiatria
Perguntar, aliás, é parte essencial do meu modo de cuidar. Mas não são perguntas inquisitivas, diagnósticas ou explicativas. São perguntas que ajudam a pensar, a olhar de outro jeito, a abrir espaço onde antes havia só repetição.
Perguntas que não buscam expor contradições, mas revelar caminhos.
Que devolvem a pessoa a si mesma, com um pouco mais de clareza, de coragem, de possibilidade.
Mais humana e artesanal
Essa forma de psiquiatria é mais lenta.
Mais artesanal.
Mais humana.
E também mais demorada, porque é feita com tempo real, tempo dedicado, tempo que não se economiza.
Compreendendo o sofrimento individual
Ela reconhece que os sintomas são apenas uma das camadas.
E que cada pessoa tem sua forma própria de sofrer — e também de resistir, de desejar, de encontrar sentido.
Se desejar aprofundar nesse tema, veja o artigo: Dor legítima não é destino: entre a história e a possibilidade.
Escolhas conscientes dentro do sistema
Não se trata de idealizar. Eu também lido com normas técnicas e exigências do sistema.
Mas posso escolher, dentro do possível, o modo como cuido.
E escolho cuidar com intenção.
Intenção clínica como bússola
Não posso ser íntegro o tempo todo.
Mas posso ser intencional em cada escolha clínica.
E deixar que essa intenção funcione como uma bússola, para que cada paciente atendido se sinta menos um número, e mais alguém.
O que ofereço em cada encontro
Como médico psiquiatra, é isso que ofereço em cada encontro: tempo verdadeiro, atenção sem roteiro, e um modo de cuidado que não desiste de ouvir — mesmo quando tudo parece pedir pressa.
Sobre o autor:
Dr. Fábio Fonseca
Dr. Fábio Martins Fonseca é psiquiatra e psicoterapeuta com mais de 20 anos de experiência. Possui formação pela Unicamp e aperfeiçoamento internacional em Terapia Cognitivo‑Comportamental no Beck Institute (Filadélfia). É membro certificado da Academy of Cognitive Therapy, com especialização em DBT pelo Linehan Institute (Seattle) e formação em Entrevista Motivacional (UNIFESP). Atua com cuidado humanizado e baseado em evidências.
Vamos caminhar juntos em direção a uma saúde mental mais equilibrada e satisfatória.
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