Confiança na prática: um guia para relações mais saudáveis e transparentes

O conceito de confiança é frequentemente abordado de maneira genérica, como se fosse algo absoluto e indivisível.

Na realidade, confiança é um fenômeno complexo e multifacetado, conforme destacado pela pesquisadora Brené Brown em sua palestra “A Anatomia da Confiança”.

Compreender os diferentes componentes da confiança pode ajudar profundamente em relacionamentos pessoais e terapêuticos, permitindo uma avaliação mais detalhada e precisa das interações.

Brené Brown propõe um modelo prático para compreender a confiança através do acrônimo BRAVING, detalhando sete aspectos essenciais:

1. Limites (Boundaries)
2. Confiabilidade (Reliability)
3. Responsabilidade (Accountability)
4. Sigilo (Vault)
5. Integridade (Integrity)
6. Não-julgamento (Non-judgment)
7. Generosidade (Generosity)

Vamos explorar cada componente com exemplos práticos

1. Limites (Boundaries)

• Exemplo prático: Você consegue dizer “não” quando solicitado algo que ultrapassa seus limites pessoais?

• Pergunta reflexiva: Identifico claramente meus limites pessoais nas relações com os outros? Respeito os limites alheios mesmo quando desconfortável?

2. Confiabilidade (Reliability)

• Exemplo prático: Prometeu entregar um trabalho ou retornar uma ligação e realmente cumpriu dentro do prazo combinado.

• Pergunta reflexiva: Costumo cumprir o que prometo, mesmo em pequenas coisas? As pessoas ao meu redor fazem o mesmo?

3. Responsabilidade (Accountability)

• Exemplo prático: Admitir claramente um erro cometido, assumindo as consequências sem justificativas desnecessárias.

• Pergunta reflexiva: Tenho facilidade em admitir erros e assumir responsabilidade? Como reajo quando outros assumem seus erros comigo?

4. Sigilo (Vault)

• Exemplo prático: Receber uma informação confidencial e mantê-la segura, sem compartilhá-la com terceiros.

• Pergunta reflexiva: Consigo manter em sigilo informações que me contam? Sinto que minhas informações confidenciais estão seguras com os outros?

5. Integridade (Integrity)

• Exemplo prático: Tomar decisões difíceis que estão alinhadas aos seus valores, mesmo que tragam desconforto imediato.

• Pergunta reflexiva: Minhas ações são coerentes com meus valores? Percebo coerência nas ações e palavras dos outros?

6. Não-julgamento (Non-judgment)

• Exemplo prático: Ouvir um amigo que compartilha dificuldades sem criticar ou diminuir suas experiências.

• Pergunta reflexiva: Ofereço espaço seguro para que outros expressem vulnerabilidades sem julgá-los? Sinto que posso fazer o mesmo?

7. Generosidade (Generosity)

• Exemplo prático: Interpretar a atitude de alguém considerando que está fazendo o melhor que pode naquele momento.

• Pergunta reflexiva: Tento interpretar atitudes alheias com generosidade? Tenho essa mesma generosidade comigo?

Saindo da dicotomia “confiar ou não confiar”

Ao compreender esses diferentes componentes, podemos sair da postura rígida e simplista de “confiar” ou “não confiar” integralmente em alguém.

Cada um de nós pode apresentar aspectos mais ou menos confiáveis dentro do modelo BRAVING, e reconhecer isso ajuda a ajustar expectativas e julgamentos, construindo relações mais saudáveis e transparentes.

Para refletir mais profundamente

• Quais dos sete componentes são fundamentais para que você se sinta seguro nas suas relações?

• Em quais áreas você ou as pessoas ao seu redor têm pontos fortes ou frágeis?

• Como uma percepção detalhada desses componentes pode melhorar suas relações pessoais e profissionais?

• Que aspectos da confiança você percebe que poderia melhorar, e como essa consciência pode ajudar na sua jornada terapêutica e de crescimento pessoal?

Usando esse guia, é possível construir relações mais conscientes, equilibradas e verdadeiramente confiáveis.

Quando a própria história se torna um peso difícil de carregar, conte comigo como seu psiquiatra.